domingo, fevereiro 22, 2004

Tanto para dizer e sem saber como

Tanto para dizer e sem saber como o fazer.

Trago em mim latente um texto que breve aqui publicarei.
Por agora referenciarei apenas a dificuldade que é organizar toda uma mente para poder depois despejar tudo sob qualquer forma sem prejuízo estético ou da honestidade que devemos a nós mesmos.

A vida está feita de coisas tristes. A minha vida está feita de coisas tristes.
Também de coisas alegres, é certo, embora a dor nos marque por vezes mais do que a alegria.

Concordo contigo Zé, quando dizias que a alegria era um sentimento menor.
Discordo de ti Zé, quando dizias que a alegria era um sentimento menor.

Não sei com que concordar ou discordar. Sou o homem do limbo, deste limbo entre céu e inferno. E como qualquer artista que se preze tenho que ter muito equilíbrio. Muito equilíbrio para não cair nem para um lado nem para outro. Acima de tudo o que está em questão é o equilíbrio.
(Preciso de encontrar a minha paz. Mesmo que ela não esteja em ti.)
Sem que se possa e saiba caminhar sem medo nunca haverá certeza de nada.

Revejo-me em Álvaro de Campos.
Revejo-me em Alberto Caeiro.
Para que lado devo cair?

terça-feira, fevereiro 17, 2004

É como se sentíssemos cada centímetro do frio metal de uma lança que nos penetra o peito nu. Como uma eterna câmara lenta. A lança, às mãos do carrasco, lenta, lentamente, e a morte aqui tão perto que tarda em aparecer. Não que a desejemos pois morrendo perderíamos tudo o que nos fez subir a este cadafalso. É antes como um desejo muito forte de aplacar o sofrimento com a saída mais perto de nós. A saída mais fácil (É irónico ver-me dizer isto, não é? Tu sabes que é...). Embora saiba que não sou do tipo dos que desistem ao ver cair o primeiro dos sete castelos, todos sabem que sou humano e como tal sou fraco. Nunca pensei chegar a este ponto.

Tudo parecia um conto de fadas, com direito a príncipe, princesa e fada madrinha mas o dragão que ainda guarda a princesa foi subestimado pelo príncipe.

(Havia uma incógnita a mais na equação. Mais uma variável que bastou para destruir o frágil equilíbrio)

E o castelo do conto de fadas ruiu com a primeira pedra lançada de uma catapulta solitária. Os exércitos do príncipe não bastam. O dragão é demasiado grande. De um poder avassalador, mesmo não tendo o mago que o criou um rosto. O mago continua escondido atrás do seu capuz.

(De nada vale resolver um sistema com demasiadas variáveis livres. Não há soluções possíveis.)

E a princesa chora. Chora por não se conseguir libertar do dragão. E o príncipe chora por não saber afastar o dragão e por não poder levar a princesa ao seu castelo, onde viveriam felizes para sempre... Ever After...

sábado, fevereiro 14, 2004

Foi como tinha que ser.

Foi como tinha que ser.

Ainda tenho a vista toldada pelas lágrimas que não derramei hoje à tarde.
A praia, o mar, o céu, os dois na areia envoltos num abraço de dois corações que não batem a compasso.
Tinha que o fazer. Tinha de saber para onde caminhar. A sensação que se tem quando se enveredou já por um caminho errado e tem de se regressar é comparável à de quem pensava ter encontrado ouro mas encontrou pirite. Frustração sim, mas certeza de que se fez tudo o que nos cabia fazer. O vazio é tão grande agora que olho para trás. Vazio dentro de mim e à minha volta.
Falámos muito, mesmo muito. Entendemo-nos finalmente um ao outro. Ambos somos complexos. Ambos temos passados difíceis e sequelas fundas a curar. Temos métodos de cura diferentes.
As lágrimas rolaram livres por sobre a tua face. Falta compreensão. É muito cedo para estar já a enterrar um passado recente. É muito cedo para já estar tudo esquecido. Abracei-te.

"- Gostava de sentir por ti o que sentes por mim."
- E porque é que não o sentes?"

Há perguntas às quais não se deve dar resposta.

(Fui um cabrão egoísta.
Agora que me lembro de tudo o que já pensei, tudo o que já tinha como dados adquiridos, favas contadas, tudo isso era artificial.
O egoísmo nato do ser humano é obra... Interpretamos o que ouvimos dos outros não à nossa maneira mas da maneira que nos convém. E por isso sofremos. E por isso sofri e sofro. É bem feito - Fui um cabrão egoísta.)

Não nego que estou a sofrer. Não nego que me apetece desaparecer para bem longe. Não nego que me apetece desligar o botão para só o ligar quando o mar estiver mais calmo.

"Duvido que encontres alguém neste momento que te ame com a força que eu te amo..."
(Somos todos tão pouco humildes...)

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

angústia

substantivo feminino


1. PSICOLOGIA mal-estar, ao mesmo tempo psíquico e físico, caracterizado por um receio difuso, sem objecto bem determinado, desde a inquietação ao pânico, e por impressões corporais penosas, como a constrição torácica ou laríngea;
2. figurado aflição; ansiedade; agonia;
3. figurado mágoa; tristeza;
4. estreiteza; opressão;
angústia de peito doença também denominada angina de peito;
angústia existencial inquietude metafísica e moral, como consciência de um destino pessoal sob o signo da liberdade ou da ameaça do nada;


(Do lat. angustìa-, «id.»)


A angústia de não saber
A angústia de saber.
A angústia de não querer saber
A angústia de querer saber.
A angústia de saber nas não acreditar
A angústia de não saber nem querer acreditar.
A angústia de não dar sem receber
A angústia de dar sem receber.
A angústia do choro
A angústia da falta dele.
A angústia de mim
A angústia de ti.

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

a falta que se sente das coisas é uma coisa de que não se sente falta.

A falta que se sente das coisas é uma coisa de que não se sente falta.
Apetece-me chorar...

A revelação por revelar ou o nada com outro nome

Escrevo hoje carregando comigo o peso da responsabilidade.
Confesso que gosto de ver os outros felizes mas nunca tinha feito um tão grande esforço por ensinar alguém a ser feliz, a descobrir o caminho, a verdade e a vida (passo o catolicismo que não professo). Nunca tinha insistido tanto com alguém para que mudasse o rumo dos acontecimentos, para que virasse as costas a um passado de fuga e desbravasse um novo futuro à luz de uma nova filosofia de vida, de uma nova mensagem.
O ser humano tem o clássico problema da inércia que embora possa parecer interessante quando justifica que nos deixemos levar pelo movimento que já trazemos mas que peca por não contribuir para que saiamos do mesmo sítio. Será por isso tão mais fácil deixar ficar mal o que está mal quanto é fácil fugir do que estamos habituados a fugir? Concerteza. Por princípio não concordo com fugas se não estiver muito largamente superado em número. Não posso concordar com fugas por laxismo e inércia. Nunca.

Por isso brado bem alto que a nossa felicidade não resulta nunca de uma fuga mas da soma das batalhas que travamos ao longo de existências mais ou menos conturbadas. Mesmo nas derrotas devemos procurar força para as novas batalhas. Se nunca as travarmos, nunca saberemos se valeram a pena. acima de tudo é isto.

(Sim, sei... este último parágrafo... são tudo clichés... mas são verdade, porra.)

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

O silêncio

Às vezes só o simples facto de estar lado a lado contigo em silêncio é suficiente para diluir toda a ansiedade.
Ah pudesse eu ter ficado no carro a dormir contigo em meus braços...
A serenidade que me inspiras, a paz a tranquilidade... tranquilidade, essa sim a palavra certa. A palavra certa que reside no fim da busca...

A dor maior

Rejeição versus Negação?
Qual a dor maior?

Rejeição porque sim versus rejeição porque não.
Qual a dor maior?

Negação porque sim versus negação porque não.
Qual a dor maior?

Tantas incógnitas numa só equação...

Partamos para Gauss...

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Silêncio e nevoeiro

Pela estrada negra o branco da névoa, o amarelo diluído dos faróis.
Pela força distante da solidão encerrada em mim por mim.
Pela viagem necessária à volta de nada, à volta de tudo.
Pelo não saber que volta dar ao tempo e que tempo temos a dar.
Pelo querer dar passos mas não querer sentir o chão fugir debaixo dos pés.
Pela felicidade que sinto ao ver felicidade surgir no rosto dos outros.
Pela tristeza que sinto ao ver tristeza surgir no rosto dos outros.
Pelos dias que passam sem nada de novo num horizonte que já julgávamos conhecer.
Pelo horizonte mais além do horizonte que sonhamos possuir.
Pelos homens e mulheres
Pelas crianças
Pelos escravos da guerra e da fome, prisioneiros de um mundo novo que só sabe multiplicar e nunca há-de saber dividir.
Pela lua, alta e imponente que não consegue penetrar na densa bruma do amanhã.
Pelo sol que nunca deveria deixar de brilhar.
Pelo verão que tarda e o fim-de-ano que já passou.
Pelos corpos espalhados na areia e as praias desertas de gente ao fim da tarde quando se vêem lua e sol frente a frente.
Pelo mar que nunca mais vi tão azul como naquele dia.
Pelos vidros embaciados do carro e pelos desenhos que se podem fazer no vapor condensado.
Por mim.
Por ti.
Me apetece chorar

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Foi como

Foi como voltar a respirar
Foi como ver desaparecer
Todos os males do mundo,
Porque só tenho olhos para ti.

Foi como se de repente
A rotação da terra, recém-invertida
Regressasse ao este-oeste
E tudo fosse como dantes.

Foi como o nascer do dia
Com direito a passarinhos e orvalho.
Como beijar a mão de um deus
Que se busca intensamente.

Foi como renascer das cinzas
(Passo o cliché da fénix mas é mesmo assim...)
Foi como se o meu amor por ti
Não coubesse mais em mim.

terça-feira, fevereiro 03, 2004

Negação

O acto de negação é tanto mais doloroso quanto a duração da mesma.

Talvez devesse não fazer
O que faço.
Talvez devesse não sentir
O que sinto.
Talvez devesse mentir
O que não minto.

Apesar de doer mais, prefiro apenas negá-lo temporáriamente.

Negar só sabe bem quando não nos pesa.
Negar dói quando não negamos a outrém
Mas sim a nós mesmos.
Nego porque sei que tenho de o fazer.
Nego porque sei que se o não fizer agora
Terei de o fazer mais tarde.
E aí a dor será multiplicada por mais.

O determinante da matriz saudade.
A característica da matriz recordação.
O subespaço da dôr...

A álgebra do amor...