quarta-feira, junho 30, 2004

Mário Cesariny



NAVIO DE ESPELHOS


O navio de espelhos
não navega, cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele

Os armadores não amam
A sua rota clara

Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

O seu porão traz nada
nada leva à partida

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

E no mastro espelhado
uma espécie de porta

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo


Mário Cesariny
(1923)

(in A Cidade Queimada,
Assírio & Alvim, 2000)

Pode ser ouvido declamado pelo próprio Cesariny e musicado por Gabriel Gomes, Rodrigo Leão, Francisco Ribeiro e Margarida Araújo, Os poetas, no álbum "Entre nós e as palavras" (1997).

Notas breves

Viva,

O blog esteve mais uma vez em baixo durante algum tempo devido a problemas com o router cá de casa. Poder-se-ia perguntar afinal porque é que eu não mudo isto para a blogspot ou isso. A resposta é: Não mudo porque sim.
Divirto-me a alojar o blog cá em casa porque tenho um prazer especial com estas coisas e pronto. Se ele ficar uns dias em baixo, que se lixe. A audiência ainda não é assim tão significativa nem nunca vai ser, por isso... que se lixe.

Portugal vai jogar daqui a pouco. Vamos a ver se me aguento. Da última vez quase me ia dando uma coisinha má... e eu que nem sou muito "da bola"...

Transcrevo em baixo um poema de Maria Teresa Horta que encontrei no outro dia ao dar mais uma espreitadela na "biblioteca" da minha Tia Ana e que copiei para duas folhas de papel de carta. Caso encontrem alguma imprecisão, peço desculpa.

Aproveito para recomendar um site que já visito há vários anos e que tem feito um excelente trabalho como acervo on-line de poesia lusófona. Vejam o Jornal de Poesia

Lição (Maria Teresa Horta)

Construíram guerra
nos olhos do menino

Sangue + duas
chagas = progresso
contados a giz
nos quadros pendurados
sem sentido

nunca um hospital
sem h
escrito num ditado

felicidade - uma flor
x toda a dor
do universo : por fome
e incerteza
no cérebro de crianças
encontradas mortas

aviões a jacto
bomba de hidrogénio
espaço oco no coração
nada pavor
ao menino
lição mandada decorar
de olhos secos

mais longe
que o teu sorriso
as montanhas
nos berços das crianças
violetas de sol
na preguiça dos jardins

assomo à janela
de menina infeliz
aspirando da rua
o som de um realejo
desejo assimétrico
na loucura de esquinas
sem chuva no Inverno
de cimento desigual no céu

mais longe
o esquecimento
que os teus beijos

tédio - pesadelo
asfixiando tardes
sem cabelos
no ciúme dos arcanjos

delírio em candelabros
acesos e madrugada
diluída no marfim
de todos os segredos

o medo
mais longe que o teu medo
mais longe
que o teu hálito
chicotes desventrados
nas tempestades
aprisionando laços
nas cabeças das crianças

Maria Teresa Horta

Biografia
Alguns poemas

segunda-feira, junho 28, 2004

A (re)Volta

Brevemente ausente neste época de exames, em que me estou a esforçar por (não) dar o litro, nem sequer os três quartos de litro, busco respostas a perguntas sem nexo (algumas) que me passam pela cabeça. Revejo em cada milímetro da sua extensão (irreal e metafórica, claro) as palavras "Vou sair" e tento compreendê-las. Compreendo-as bem e passo à frente. Há que redefinir.
Senão, vejamos alguns factos:

    m formações distintas
    n pessoas diferentes
    p nomes diferentes
    q atitudes perante a música
    r sentimentos díspares

Se M -> N e N -> P Logo, M -> P
É dado adquirido que Q -> R

Adicionamos a isto que:

5-1+1-1-1 = 3

Nada disto teria acontecido se as coisas resultassem sempre à primeira. Mas ainda bem que não resultam. Estamos reduzidos a três. Faremos os possíveis e os impossíveis para continuar. Há que redefinir.

sábado, junho 19, 2004

A expressão dos meus sentimentos actuais

E a expressão é...
Bah!

Fim de expressão.

sexta-feira, junho 18, 2004

A necessidade de falar

Assim como todo o ser humano tem a necessidade de respirar o oxigénio que lhe é essencial à vida, alguns desses mesmos seres humanos têm a necessidade de estar constantemente a falar, seja do que for. Veja-se o exemplo do autor - não é por acaso que este blog existe, conforme está bem explícito na justificação que o próprio faz do mesmo. O que incomoda solenemente é quando a necessidade de falar se encontra com a triste sina de não ter nada para dizer, situação infelizmente frequente entre o povo português (e não só, mas sendo que este me é mais dado a analisar...).
Quando me deparo com este tipo de pessoas e visto que não é legal o uso e porte de armas de fogo de calibre militar, faço todos os possíveis por ignorar o sujeito, o que nem sempre é possível. Tais pessoas estão normalmente munidas de vozes difíceis de "difractar mentalmente", mesmo pelo ouvido mais treinado, seja pela elevada amplitude ou frequência. A primeira é difícil de não ser ouvida, a segunda tem tendência a não deixar de ser ouvida.
Alie-se a isto o facto de apoiar metade das supostas ideias-próprias em frases-feitas lidas quer em programas informativos de carácter duvidoso, jornais diários da imprensa temática, fohetos de partidos políticos ou e-mails que infelizmente tendem a circular perpetuamente na rede ou a ser aglutinados em websites que os tomam como fontes de informação segura.
O grande problema surge quando se torna impossível ignorar o sujeito, seja por estarmos numa cela sem portas nem janelas, seja por uma questão de mera boa educação. Nestas situações dou sempre por mim a anuir com movimentos de cabeça e a soltar "hum-hums" entredentes e ocasionalmente um "pois..." muitas das vezes correndo o risco de estar a concordar com ideias que considero erradas, falaciosas ou completamente descabidas. Será hipocrisia?
Quem me conhece sabe que sou um sujeito calmo e consensual mas que não deixa de fazer valer o seu ponto de vista. Busco sempre o meio-termo dentro das decisões difíceis sem nunca abdicar de uma vitória que me é devida. Ora é sabido que qualquer tipo de discussão com uma pessoa que nada tem a dizer não leva a lado nenhum. Por isso o meio termo entre arrear-lhe com um taco de baseball envolto em arame farpado nos dentes(1) e ignorar completamente o sujeito de uma forma mal educada será ouvir o que ele tem a dizer, sem demonstrar nenhuma emoção com o discurso. Isto aumenta largamente a probabilidade de encurtar a conversa (que rápidamente se esgota) e minimiza em muito o risco de uma perseguição movida pelo sujeito.
Pior que isto mas dentro da mesma classe, são aqueles sujeitos cuja amplitude vocal consegue superar a de um hipopótamo na época da reprodução e que mesmo estando numa mesa afastada da nossa, não conseguimos deixar de ouvir. Isto incomoda ainda mais, porque não conseguimos concentrar-nos na actividade que estamos a desenvolver no momento, seja ela escrever um texto, ler um livro, conversar com amigos ou até... sei lá... olha! Ver o jogo Dinamarca-Bulgária, por exemplo.
A estas pessoas, nada mais tenho a recomendar do que procurar auxílio. Podem começar por uma biblioteca ou qualquer coisa do género.
Não se esqueça por isso, caro leitor, se sente que se enquadra nesta categoria de pessoas, por favor procure aconselhamento com alguém que não seja a Parola, perdão, Taróloga Maya e evite passar por mim quando me vir com uma motossera ou outra ferramenta com peças cortantes na mão.

___ISTO É UM RODAPÉ__________________________
Nota de rodapé:
(1) - Esta devo-a ao ZN ao DC ao DVC e ao JJ. Eles sabem quem são.

quinta-feira, junho 17, 2004

Fatboy Slim is fucking in heaven with Merche Romero

Fui ontem ver Norman Cook na discoteca Vinyl.
Por quinze euros da minha alma (ou melhor, da alma do meu pai que me pagou o bilhete) pude assistir ao fantástico FatBoy Slim a passar som de grande qualidade. Sempre bem disposto, a escrever nas capas dos "vinis" bocas para o publico sobre futebol e não só. Consegui cumprimentar o Sr. Norman e ainda estive a falar com Michael, o seu "segurança" e, pelo que me pareceu, road manager.
Valeu a pena ainda por cima por conseguir tirar uma meia dúzia de fotos com a fantástica Merche Romero (Sim, eu vejo o Portugal no Coração... ou então não). O ambiente estava fantástico, embora não perceba porqe é que as inglesas não compareceram em massa, porque beefs, esses, estavam lá aos pontapés.

Hoje o ambiente está fantástico em redor do estádio Cidade de Coimbra. Os Ingleses apoderaram-se do centro comercial Girassolum que encheram de bandeiras.
O parque de estacionamento perto da minha casa transformou-se num parque de Autocaravanismo, com dezenas destes veículos estacionados. O McDrive transformou-se num "McWalk".

Coimbra em festa.

Será que preciso de relembrar tudo o que foi hipotecado para que se pudesse fazer tudo isto?

quarta-feira, junho 16, 2004

Who Am I

Pelos vistos...





Faça você também Que
gênio-louco é você?
Uma criação de O Mundo Insano da Abyssinia




Vou já à conservatória do registo civil tratar do assunto.

Acordares

O que pode haver de melhor do que acordar com o quarto a ser invadido pelo sol da manhã?
Tirassem-me a música dos Evanescence que está a passar no rádio e seria um acordar perfeito para um dia destes.

terça-feira, junho 15, 2004

Uma nota só

Permitam-me que aponte para duas leituras de hoje que me fizeram rir de formas diferentes:

Um post no blog "A Kathleen Gomes é um boi" ao qual achei imensa piada.

O portal do Partido Nacional Renovador ao qual achei imensa piada.

Agora descubram lá qual a diferença nas piadas.

segunda-feira, junho 14, 2004

Da Falta de Internet

Muitas pessoas (ok, uma mera meia dúzia) devem ter-se perguntado sobre a razão que está por detrás destes longos dias sem poder aceder ao meu blog-ou-lá-o-que-isto-seja.
Passo a explicar:

A culpa é dos senhores do cabo.

Está explicado.

Sejamos justos. Não directamente dos senhores do cabo, mas sim de um amplificador de sinal daqui do prédio (Prédio antigo, este. Deve ter à vontadinha uns sete ou oito meses!) que pelos vistos deu o badagaio e nos deixou a todos com o cable modem a piscar sem se conseguir registar com os senhores do cabo. Quando liguei para lá o diálogo foi qualquer coisa do género:

- Netcabo, boa tarde fala o X
- Boa tarde, não consigo aceder à internet. Os sintomas são : (Longa e detalhada lista de sintomas)
- Mas o seu sinal está bom.
- Sim, mas o cable modem está para ali a piscar sem se registar. Isto já dura há duas semanas.
- Ah. E qual é o seu sistema operativo?
- Eu não tenho o modem ligado ao um PC tenho o router da Linksys (Vendido por eles).
- Ah. E o senhor tem algum spyware instalado?
- Er... Spyware? Não (dEUS nos livre) não tenho.
- Não se importa de confirmar comigo?
- Ouça, eu não tenho spyware instalado, escusa de confirmar e já agora, em que medida é que isso se relaciona com o facto de o meu modem não se registar convosco?
- Sabe que na internet a porta que liga todos os computadores é a porta 80.
- .o0(Ai é? Então está bem.)
- E sabe que se tiver alguma coisa a correr na porta 80 pode não conseguir aceder à internet.
- Mas eu tenho uma coisa a correr no porto 80, por acaso. É UM SERVIDOR WEB! E assim de repente não estou a ver a relação com o spyware e com um cable modem que não se consegue registar...
- Não quer verificar o spyware?
- .o0($/%#$%/$#%&) NÃO!
- Então não posso fazer mais nada.
- NADA?!?
- Quer que marque uma deslocação de um técnico?
- QUERO!
- Então está bem, mas se o problema for seu, quem paga a deslocação é o senhor!
- .o0(F...-..! Que é chato.) Ok, para quando? .o0(Pelo menos nesses posso bater.)
...

Claro que não está aqui retratada toda a conversa. O facto é que pelos vistos um vizinho qualquer também se queixou antes de mim e já cá vieram. Como não apanhei os senhores a tempo, amanhã vou ver se ainda consigo desmarcar a viagem dos ditos e ainda tentar o reembolso das três semanas sem net.

terça-feira, junho 08, 2004

Ontem foram aproximadamente 2,5Km. Hoje vamos a ver. Dói-me o corpo... Quatro anos parado não fizeram nada bem.
(E para que conste, 2,5Km é para mim uma grande vitória).

segunda-feira, junho 07, 2004

Ausencias com periodicidade

Há uma coisa que me deixa deveras chateado. Essa coisa é estar a pagar por um serviço que me não é prestado. Sinto-me como se fosse ali ao café, pedisse uma bica, pagasse a dita e a mesma não me fosse servida.
Queria pois deixar patente a minha fúria para com os senhores do cabo que me estão a entrar no bolso à força toda. Não sei que espécie de técnicos contratou a Netcabo para "efectuar reparações nas linhas de Coimbra" - segundo a assistência (pouco) técnica da dita empresa - mas o facto é que desde há uma semana para cá que aproximadamente entre as 14h00 e as 20h00 que não tenho acesso à internet. Isto seria pouco grave se eu apenas usasse a dita para descarregar porno e enviar chain-letters aos meus "amigos" virtuais, o que não é o caso. Felizmente já passou a fase dos projectos e trabalhos da faculdade mas mesmo assim não poder por exemplo ver o e-mail é constrangedor para mim, ok?!? Ao diabo que carregue a NetNABO!!!
No final do mês quero ver se me descontam as 30 horas de internet que já me estão a dever...