Silêncio e nevoeiro
Pela estrada negra o branco da névoa, o amarelo diluído dos faróis.
Pela força distante da solidão encerrada em mim por mim.
Pela viagem necessária à volta de nada, à volta de tudo.
Pelo não saber que volta dar ao tempo e que tempo temos a dar.
Pelo querer dar passos mas não querer sentir o chão fugir debaixo dos pés.
Pela felicidade que sinto ao ver felicidade surgir no rosto dos outros.
Pela tristeza que sinto ao ver tristeza surgir no rosto dos outros.
Pelos dias que passam sem nada de novo num horizonte que já julgávamos conhecer.
Pelo horizonte mais além do horizonte que sonhamos possuir.
Pelos homens e mulheres
Pelas crianças
Pelos escravos da guerra e da fome, prisioneiros de um mundo novo que só sabe multiplicar e nunca há-de saber dividir.
Pela lua, alta e imponente que não consegue penetrar na densa bruma do amanhã.
Pelo sol que nunca deveria deixar de brilhar.
Pelo verão que tarda e o fim-de-ano que já passou.
Pelos corpos espalhados na areia e as praias desertas de gente ao fim da tarde quando se vêem lua e sol frente a frente.
Pelo mar que nunca mais vi tão azul como naquele dia.
Pelos vidros embaciados do carro e pelos desenhos que se podem fazer no vapor condensado.
Por mim.
Por ti.
Me apetece chorar
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