A brincadeira começou já lá vão sete anos, tempo mais que suficiente para que deixasse de o ser e começasse a embrenhar-se em nós (e nós nela) de forma que parecia já coexistir connosco há milénios. O trabalho teve várias fases e não vale a pena estar aqui a biografar algo que terá necessariamente de ser observado a certa distancia para que a compreensão de tudo nos possa acertar subitamente como um rochedo.
Recordo momentos interessantes e uma inocência inicial que sabia a fruta colhida verde, com toda a dose de aspereza que normalmente acarreta. Recordo vontade de trabalhar, projectos a longo prazo, reuniões, ensaios, gravações, redefinições, entradas, saídas e um fardo enorme a suportar - a instabilidade das diversas formações. Paradoxalmente, no entanto, o trabalho fluía. As músicas faziam-se, os concertos corriam, as gravações sucediam-se e contribuíam para aperfeiçoar as muitas imperfeições que se notavam. Depois veio o declínio. A dificuldade em encontrar quem acompanhasse o projecto, algumas divergências criativas, de métodos de trabalho e até pessoais abalaram demasiado as demasiadamente frágeis estruturas em que tudo assentava.
A imagem que carrego destes últimos tempos é a de um doente terminal que é reanimado de cada vez que desfalece para morrer, voltando de cada reanimação mais fraco e mais moribundo do que antes. Não vejo sentido nisto. Há que saber compreender quando parar e como parar.
É assim que abandono este projecto que iniciei junto com o Jorge. Decidi dar um tempo a mim e à música. Não consigo continuar a trabalhar neste projecto. Sinto-me saturado e a precisar de me encontrar noutras áreas. Anseio por mais tempo para ler, mais tempo para viajar, mais tempo para ver cinema, mais tempo para mim e por mais insignificante que a música possa parecer, é para mim demasiado significante. É mais uma amarra que solto. Não é um adeus à música. É talvez um até já. Não acho que seja capaz de parar de tocar, não consigo é continuar a fazê-lo nestes moldes.
Ao Jorge e à Ana desejo apenas que consigam atingir os objectivos a que se propõem e que me perdoem a ?deserção?. Será melhor para todos. Gosto de vocês.
E no fim, este fim, o que nos deve restar senão a esperança de que ele seja afinal um novo princípio?