quinta-feira, março 11, 2004

Páginas e páginas escritas e relidas, há que fazer uma súmula e tirar conclusões. Agora é (talvez) o momento certo.

Páginas e páginas escritas e relidas, há que fazer uma súmula e tirar conclusões. Agora é (talvez) o momento certo.

Se fosse tão fácil como digitar um URL num browser… Mas não é. Se fosse tão linear como um uma gramática linear à direita… Mas não é. Se fosse tão simples como uma multiplicação de matrizes… Mas não é. Amar é tão ou mais complexo do que um número imaginário. Tem a parte real e tem a parte imaginária. Só é pena não poder por alguma transformação matemática fundir o meu imaginário com a tua realidade.
Afinal as coisas não eram bem como pareciam, o que eu julgava latente em ti estava longe de ser verdade, longe de estar sequer adormecido no teu peito. Não passava mais uma vez de uma fabricação mental aqui do Joãozito. Mais uma. Quando se atravessam estados de alma como estes é sempre complicado ver o caminho e não existe mapa certo por onde nos possamos guiar. O horizonte aparece difuso e confuso. Será por isso que não conseguimos deixar de acreditar em miragens. Será por isso que não queremos deixar de acreditar em miragens. Todos sabemos que as miragens são produto da nossa imaginação. Os nossos desejos mais íntimos metamorfoseiam a realidade para que ela nos seja agradável, tal como nestes estados de alma tudo o que nos chega através dos cinco sentidos é multiplicado por mil e reinterpretado até à exaustão para nos satisfazer o íntimo. O bom passa a óptimo e o mau a péssimo sem que dêmos conta do que estamos a provocar em nós e nos outros. Convenhamos que é natural – não sou o único a dizê-lo. E sem darmos conta estamos a fretar o veículo para a dor e o sofrimento. Nós, com a nossa insistência em nós. Parece confuso mas não é. É tão simples como isto: Querer é poder mas só dentro da nossa mente. Eu quis e tu não mas tu estavas consciente. Tu estavas com os pés bem assentes na areia da praia, eu não. Eu flutuava trinta centímetros acima do solo enquanto aspirava à minha divinização perante mim. E de tão longe que eu estava da tua realidade entendia as tuas palavras como alentos às minhas certezas particulares. E antes de multiplicar transfigurava-te e fazia-te o que não estavas a ser, para o meu prazer privado. E multiplicava. Uma mensagem no telemóvel ao acordar era óptimo, um telefonema ao deitar era um sinal, um beijo era amor. Mas não. Estávamos a funcionar em dois comprimentos de onda completamente diferentes sem que eu desse conta. E tu chamavas-me à terra mas eu queria lá saber. O meu universo era perfeito e tu encaixavas lá como uma peça no imenso puzzle que era a minha vida. Na minha pequena cabeça estava tudo bem. Até que chegou a lucidez (e acordar em manhãs frias é muito duro). Sabes bem que é tão difícil despertar de um sonho bom como é difícil mudar planos e querer amar quem não se ama. E eu não quis despertar à primeira mas tu foste corajosa e paciente e soubeste dar-me o safanão que eu precisava. Soubeste dizer “Acorda para a vida”. E por isso te quero agradecer.

Não nego que sofri e continuo a sofrer por tudo aquilo que imaginei não se ir realizar. Não vou colorir o texto com palavras vãs. Nestes tempos que passei mentalmente contigo sinto que atravessei todo o espectro das emoções e sensações conhecidas. Começou com curiosidade, seguiu-se um misto de alegria e angustia, depois veio a paixão. Mais e mais alegria e mais felicidade e amor. Sim, porque sinto que cheguei a amar-te. Sinto que ainda te amo embora não o queira dizer-te cara a cara. A ilusão levou-me à angústia. A necessidade levou-me ao desespero. Depois veio a dor. Quando finalmente quis marcar encontro com a realidade surgiu a tristeza. As sensações e sentimentos que criei dentro de mim foram tão diversas nesta fase que mal me atrevo a afirmar que as senti. Foram tangenciais. Foram quase um “roçar” o arrependimento, o ódio, a depressão… Agora sinto tristeza. Uma tristeza amarga. Foi a pior semana da minha vida, confesso. Nunca imaginei que me ligasses naquele dia. Foi um erro mas tu não podias sabê-lo. As tuas premissas eram diferentes. Nunca me apeteceu tanto desatar a chorar como naquele dia e não fui capaz. (Tenho um clássico problema com o choro. Julgo que chorei tudo em criança e agora não sou capaz de o fazer, porquê? Não sei.) O que sinto agora? Muita coisa. Uma tristeza infinita, uma amargura muito grande. Uma felicidade por teres passado por mim desta maneira e saber que vais ficar, mesmo que agora tenha que esquecer a parte de ti que mais me agradava colocar no pensamento. Tudo o que me entra pelos sentidos adentro neste momento és tu. Estás presente em cada gesto do meu dia-a-dia. Estás presente em cada paisagem, em cada momento de solidão. Em cada virar de página, em cada música que passa na rádio, em cada palavra que possa instantaneamente associar a ti, mal saia da boca de alguém. É confuso e cansativo passar um dia inteiro a evitar-te pois estás em toda a parte. Sempre tive um problema de dissociação das minhas recordações. Não consigo evitar trazer as memórias de ti agarradas a tudo o que me rodeia. Será medo de te esquecer? Não creio. Será falta de vontade de ter de te ultrapassar? É um constante exercício de concentração. E de repente aquela sensação estranha no estômago e a asfixia… e lá vem o vazio, todo de uma vez. É o preço a pagar por não se ter aberto os olhos na altura certa.

Admito aqui finalmente que te amei.
Admito aqui finalmente que te amei.
Admito aqui finalmente que te amo.

Custa-me admitir.