sexta-feira, março 24, 2006

Não quero, não posso, não gosto.

Não gosto de falar muito e ainda assim acho que falo demais. O que tenho a dizer fica-me sempre entalado na garganta. Meias palavras, frases incompletas. Penso mais do que o que falo e muitas vezes ainda bem que assim é. Não raras são as vezes em que falo, deixo a frase a meio e fico a olhar o vazio como se tivesse subitamente encontrado algo de transcendente. As pessoas ficam a olhar para mim como se eu não regulasse bem (e o facto é que não regulo) no entanto na minha cabeça tudo parece fazer sentido. Tenho medo de estar a ensandecer, embora tenha a consciência de que é pouco provável.



Não quero continuar. Estou cansado, sem objectivos, desiludido com cadeiras de merda, professores de merda e colegas de merda. Sinto que as pessoas são cada vez menos interessantes ou que o meu prazo de validade se está a acabar ou mais provavelmente ambos. O departamento de engenharia informática da UC é, no geral dos melhores em Portugal e só lamento que as pessoas que por lá passam cada vez o mereçam menos. Tenho a noção de que a geração de engenheiros que vai de lá sair daqui por uns anos será um conjunto de mamíferos sem capacidades de relacionamento interpessoais alimentados a fast food. Pessoas que são capazes de insultar electrónicamente e que quando se cruzam com os alvos do insulto no corredor fazem de conta que não os viram. É assim que será o futuro informático - dono de uma elevada competência técnica, ao nível apenas da sua arrogância.

Não posso aguentar muito mais tempo sem explodir. O que me salva é que ocupo o tempo com coisas que dão mais do que levam pelo menos espiritual e físicamente. Acho que se não praticasse tudo aquilo que pratico era provavelmente muito difícil passar metade do dia com um sorriso nos lábios.

Espero que o mau humor desapareça. A chuva também não ajuda.